ODE AO RIO MIRA
Vem de longe, arrastando os pés molhados
por baixo da planície.
Carrega o suor filtrado
por tanto chão pisado.
Tantos ais, tanta raiva, tanto amor
semeados
para tão pouco pão nas mãos mirradas!
Escala as entranhas da colina
na ânsia de ver o mar.
Será que o mar existe?
Nem o horizonte o suspeita ou não revela.
Duas lágrimas rompem o rosto da terra
e um pássaro de vento as empurra na vertente
numa enxurrada de dor.
Olhos levantam-se do chão
cansados de não ver.
Plangem os choupos, murmuram os canaviais
e os bois vêm beber
o rio ainda mal nascido
mas que já corre
com destino de mar.
Os homens semeiam-lhe nas margens
desejos verdes. E as mulheres
vêm branquear os seus desvelos
nas águas ridentes.
Peixes, barcos e remos,lágrimas e terra,
excrementos e esperança
marcam o ritmo da corrente.
O rio já transporta segredos
arrancados às pedras
e a terra abre sorrisos de flores
para o rio passar.
Mira, rio tranquilo, passa devagar,
deixa por onde passas
uma funda carícia de frescura.
Mil fontes descem, a correr, a serra
para juntar-se ao rio num grande abraço de água.
E o rio acolhe nos seus braços
os pescadores temerosos da tempestade.
Já lhe passou a pressa de ser mar.
Agora sente-se rio, porto de abrigo, segurança
dos indefesos.
Agora sente-se parte da terra,
são suas as margens,
os plátanos, os mouchões,
os campos de regadio, as sementeiras
e os figueirais.
Estão ao seu cuidado a sede
e a fome dos homens.
O rio Mira, senhor da planície
e das escarpas,
majestoso e largo,
chega por fim às portas do oceano.
Sem temer o seu destino de rio,
enfrenta as vagas eternamente em fúria
e diz-lhes simplesmente, tranquilamente: Aqui estou.
Vem de longe, arrastando os pés molhados
por baixo da planície.
Carrega o suor filtrado
por tanto chão pisado.
Tantos ais, tanta raiva, tanto amor
semeados
para tão pouco pão nas mãos mirradas!
Escala as entranhas da colina
na ânsia de ver o mar.
Será que o mar existe?
Nem o horizonte o suspeita ou não revela.
Duas lágrimas rompem o rosto da terra
e um pássaro de vento as empurra na vertente
numa enxurrada de dor.
Olhos levantam-se do chão
cansados de não ver.
Plangem os choupos, murmuram os canaviais
e os bois vêm beber
o rio ainda mal nascido
mas que já corre
com destino de mar.
Os homens semeiam-lhe nas margens
desejos verdes. E as mulheres
vêm branquear os seus desvelos
nas águas ridentes.
Peixes, barcos e remos,lágrimas e terra,
excrementos e esperança
marcam o ritmo da corrente.
O rio já transporta segredos
arrancados às pedras
e a terra abre sorrisos de flores
para o rio passar.
Mira, rio tranquilo, passa devagar,
deixa por onde passas
uma funda carícia de frescura.
Mil fontes descem, a correr, a serra
para juntar-se ao rio num grande abraço de água.
E o rio acolhe nos seus braços
os pescadores temerosos da tempestade.
Já lhe passou a pressa de ser mar.
Agora sente-se rio, porto de abrigo, segurança
dos indefesos.
Agora sente-se parte da terra,
são suas as margens,
os plátanos, os mouchões,
os campos de regadio, as sementeiras
e os figueirais.
Estão ao seu cuidado a sede
e a fome dos homens.
O rio Mira, senhor da planície
e das escarpas,
majestoso e largo,
chega por fim às portas do oceano.
Sem temer o seu destino de rio,
enfrenta as vagas eternamente em fúria
e diz-lhes simplesmente, tranquilamente: Aqui estou.