amor de escriba
é pra mim que eu escrevo
e eu escrevo pra você
escrevo para o bem
é para o bem das pessoas que escrevo
e, para o seu bem, tente observar o que escrevo
pois minha escrita é meu sangue
é minha revolta
meu grito
e bendito é todo aquele
que deseja ouvir
o grito de um trabalhador
o vômito de uma rua empoeirada
o som e tudo o que flui das gargantas das urbes
dos ânus das nações
escrevo pra lembar
escrevo pra celebrar
pra antever
pra supor possibilidades
paraísos, paradoxos
minha letra não é anestesia
é nervo exposto
é queimadura química
é pra fazer pensar
em mim
em nós
nas crianças
todas as mulheres
todos os homens
bichos
plantas
paisagens
planos
pensamentos de chuva, sol, terra, mar
prismas
plasmas
meu texto
é semente em terra preta
e eu escrevo pra sobreviver
e isso me é muito caro
quando me ler pense em mim
pense em você
pense em nossas histórias
em cada batalha
em cada banquete
passeio
aventura
mas a vida não são férias
a vida é travessia de correnteza
e, embora seja bom (e assim parece ser)
amar é um ato de coragem:
amar é uma bosta.