O ALFARRÁBIO DO HOMO SAPIENS
Muito tempo se passou,
ao dicionário não pude mais recorrer
para reencontrar o sinônimo de mulher amada!
Insubstituível é a sensação de tê-la sempre ao meu lado,
por mais que a razão da lógica desqualifique esse composto verbete.
Se ontem, no afã da boca molhada
do calar em nós mesmos,
descobri que pudemos nos molhar no fogo
e encontrarmos o sabor dos dedos na língua
naquela mesma página “a” de amante,
mesmo sem texto
engula meus lábios
e disfarce minha mão,
deixa eu tocar metade
do teu corpo falado
de boca cheia, inteira razão.
Se ontem, no afã da vista desatenta
aos óculos de graus,
descobri que não censuramos nenhum livro
nem o sangue seco estendido pelas lágrimas
das lentes no varal para enxugarmos
o frio do escuro
na fresta dos olhos,
o abajur semi-apagado
brinca com a meia-luz
ilumina só meio peito
dos seios sem braços em cruz.
Muito tempo se passou
para ter coragem de descobrir a palavra
que dói na boca do estômago em fome de letras,
que mata o coração quando o “a” não é mais amante!
Em meio ao livro, aquela fóssil folha primata e sem cheiro
não dá a idiota impressão de ter amado apenas as palavras.