Nocturno
Desço para a noite – veemente,
sinto o âmbito da noite como um ombro feminino nomeado na câmara do desejo, há a anamnese dos jardins onde estaríamos encantados
absorvendo pétalas,
as tuas palavras inscritas no brilho dos olhos e eu com os dedos
atados às nossas veias submarinas.
Desço para a noite no diálogo dos lábios,
uma curva subtil rente à luz da vigília desenha os corpos,
os gestos imperceptíveis traçam a moldura das sombras nos vidros coados da madrugada. Sinto o que as sílabas não dizem na certeza da sedução de cuidar-te, a linha débil da ansiedade me dilata a pele,
que pudesse ser para que a distância se dilua nestas horas.
Pela noite – vagamente como a água que corre nas estradas, dizer os campos mais próximos das aves e a impaciente voz que se escuta nos filamentos de um sonho errante.
Sob a noite se indicia um dia claro nas frestas da aurora,
o teu rosto funde-se na beleza exacta
de uma brancura cintilante e única.