ESPANTO

Como me espanta ainda este meu espanto

pela vida que tanto me deslumbra

este vibrar perene e sem quebranto

minha visão de estrelas na penumbra

Como me espanta o meu suor-ternura

meus poros não dormirem já fechados

não ser meu coração já pedra dura

não serem minhas mãos punhos cerrados

Como me espanta quanto sentimento

floresce ainda em cores dentro de mim

como se a terna mão do esquecimento

plantasse as minhas mágoas num jardim

E por me ter beijado um tal espanto

na hora abençoada de nascer

num mar feito alegria afogo o pranto

deslumbrada pela vida até morrer

E se de espanto é feita a minha lida

se nesta vida assim fui bafejada

meus olhos verão espanto na partida

com espanto alcançarei nova morada

(1º Prémio Poesia - Jogos Florais do Cenáculo Literário Marquesa de Valverde -

Lisboa - ano de 1999)

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 27/04/2005
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