Sobre a fala muda de meus olhos e o cheiro doce da tua pele.
Duas consciências retardadas no tempo
Nuas como flores decapitadas e decrépitas.
Minha languidez aperta o pêssego da tua pele
E você não reconhece,
Esconde as cerejas nos bolsos
E parte escondendo pêlos, lábios e peitos.
Não busco a tua inteira compreensão de quem sou,
Não quero a grandeza do que você é.
Contento-me com o prelúdio de qualquer coisa
Que eu invente, que seja real ou fantasia.
Recuso o escuro onde palavras são ditas,
tremelicando meu ventre e aguçando meu plexo solar.
Recuso teus mistérios e medos.
Repuxo-me inteira de desperdiçar-te assim.
Puro óleo negro escorre de meus pulsos cerrados e duros.
Tu és minha orgia de cores.
Mas nunca capturarei aquele ponto escravo e neutro do que você é.
Nunca poderei reconhecer se me queres por trás dos olhos.
Te cobiçando inteiro, terei o vazio absoluto.
Você é carne de gente escorrendo entre sangue humano,
Penetrando em todas as carnes medonhas, sublimes e colossais.
Desejando incompletamente, suplicando parcialmente
Apenas pelo roçar de teus lábios,
Por olhares desatentos,
Pela chave de coxas cruzadas,
Por teu suor de madrugada,
Pelo gosto salgado de teus pêlos,
Por tua convulsão entre meus joelhos,
Minha ebulição na tua boca
E meus dentes monstruosos de volúpia.
Serei escrava de pouco
E guardarei a esperança
De nunca saber-te inteiro.
Confessar-te no meu colo
E abrir a boca com línguas
Para marcar tua chegada.
Você: fragmentado em mim.