Palavras
Rimbaud disse um dia,
Assim em forma de poesia
Que cada vogal tinha sua cor,
Mas seja como for
Joguemos o jogo das palavras
Oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas
Tônicas e átonas
Bombas atômicas da língua
Explodindo a síntese
A antítese
Brilhando na marquise
Pálida que encapa o dicionário,
Bebamos todos os acentos
Sentemos, tomemos assentos
Circunferência circunflexa aguda
Aplaudamos, dividamos, mas
Exclamemos em ponto e vírgula
E repousemos nos braços
De um calado ponto final.
Qual o idioma dessa língua?
Gregos latin’do em português
Em surdos ouvidos brasileiros
Tenho dois ouvidos
E são tantas e tantas bocas
Tantas mensagens loucas
Tantas vozes roucas
Tantas partes poucas
E tantos são outros
E outros tantos são poucos
Poucos são sábios
Ou doutos...
Quando tenho a palavra
Em minha boca
Observo o murmúrio rouco
Dos artistas
A curiosidade cega dos cientistas
O bolso imoral dos vigaristas...
Se o verbo se fez carne
Minha célula é passado,
Meu sangue é puro
E imaturo
Futuro
O presente é um adjetivo
Que não cabe em mim...
Quando tenho a metáfora
Em minhas mãos
Tenho a necessidade
De soltar todos os cachorros
Escalar todos os morros
Me lançar pela cidade
Implorando por socorro!