Palavras

Rimbaud disse um dia,

Assim em forma de poesia

Que cada vogal tinha sua cor,

Mas seja como for

Joguemos o jogo das palavras

Oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas

Tônicas e átonas

Bombas atômicas da língua

Explodindo a síntese

A antítese

Brilhando na marquise

Pálida que encapa o dicionário,

Bebamos todos os acentos

Sentemos, tomemos assentos

Circunferência circunflexa aguda

Aplaudamos, dividamos, mas

Exclamemos em ponto e vírgula

E repousemos nos braços

De um calado ponto final.

Qual o idioma dessa língua?

Gregos latin’do em português

Em surdos ouvidos brasileiros

Tenho dois ouvidos

E são tantas e tantas bocas

Tantas mensagens loucas

Tantas vozes roucas

Tantas partes poucas

E tantos são outros

E outros tantos são poucos

Poucos são sábios

Ou doutos...

Quando tenho a palavra

Em minha boca

Observo o murmúrio rouco

Dos artistas

A curiosidade cega dos cientistas

O bolso imoral dos vigaristas...

Se o verbo se fez carne

Minha célula é passado,

Meu sangue é puro

E imaturo

Futuro

O presente é um adjetivo

Que não cabe em mim...

Quando tenho a metáfora

Em minhas mãos

Tenho a necessidade

De soltar todos os cachorros

Escalar todos os morros

Me lançar pela cidade

Implorando por socorro!

Odair J Alves
Enviado por Odair J Alves em 03/12/2008
Código do texto: T1316762
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