Conjectura
Seu último beijo queimou minha boca,
Marcando-me os lábios, deixando-me em desatino...
Revelando-me sua natureza, ao tirar a roupa,
É como se estivesse presa ao meu destino...
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Então esqueço da vida, esqueço do tempo!
E passo a respirar somente seu perfume...
A vida até parece passar num só momento,
Expondo-nos a verdade de tudo que nos une...
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Mas eu lhe falo com minha malícia desencarnada!
Sei bem o que procuro, são tantos os desejos...
À noite nos revela muitos passos na jornada,
Iniciadas por um único toque de beijo...
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No escuro, sei bem o que minhas mãos procuram,
E dedilham-te, com um piano em sonata...
Os sons que saem de sua boca, se perduram,
Até que num êxtase, tu toques a poesia da madrugada...
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Como se desencarnasse um amor profundo,
De uma dor ao qual nada ensalma...
Fazendo de nosso quarto, um pequeno mundo,
Governado pelos confins de nossas almas...
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Pois a alma governa e sente, todo e qualquer sentido,
Reprimido ou não, pela pele se revela...
Então o toque fala, até com gemidos,
O que escondemos ao apagar das velas...
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Como se ocultássemos nosso mar de prazer,
Onde navegamos em ondas de suor...
Em corpos que se esfregam... O que dizer?
Então calarei, se assim achar melhor...
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Assim não te direi nada, mas compartilharei,
De nosso revés, quanto tudo silenciar...
E quando amanhecer, de você não mais serei,
Pois acordado, com você não posso sonhar...