MITO MULHER

Pinto-a sob medida

imune aos defeitos

do dia a dia.

Sedas da vida

transparentes contornos

corpo perfeito.

Despretenciosamente

o destino nos convoca

frente a frente

e minha mão já a toca

desrespeitosamente.

Caprichos degradantes

sufocados anos a fio,

ardentes no cio

de tais instantes

de rara utopia,

nudez e fantasia.

Sussurrantes entrelinhas

sucessivas bolinações,

repentino lampejo:

silenciosas mutações.

Ontem o mito intocável:

mito mulher.

Hoje o mito pessoa:

mito a toa,

que já não se quer.

Inacreditável.

Final enfadonho

para quem por um triz

superou o próprio sonho

de um delírio feliz.

Não se é triste

por se sonhar com alguém.

Tristeza é ter o que não existe

quando se tem.

Triste

é o mito que existe...

Ricardo Leal
Enviado por Ricardo Leal em 01/12/2008
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