O que traz a Dor.

Há quem peleja, na lida cruel do garimpo...

E que fere a mão, maltrata os pés

Desativa o coração.

São os que suam a testa, e queimam a pele

Debaixo do escaldante sol.

O corpo se dilui na água

O sangue escoa

Peneira abaixa, peneira sobe...

Os olhos choram, a alma perdoa

A esperança ainda pulsa, vibra.

É do garimpo que vem o ouro, o diamante, a riqueza.

Quem se machuca, sabe que existe uma recompensa.

Sabe que na dor, há proeza.

Há quem se aventura por bravio e infinito mar

Quem parte solitário, sem olhar a mão que na areia ficou a acenar.

E num barquinho velho, de madeira concormida

Leva consigo nada. O espírito guia...

Ondas balançam e amedrontam

O mar é maior e mais forte que o amor em proa;

Mas existe algum lugar que espera.

A coragem nunca é em vão. Quem desbrava, não o faz à toa.

Navega, navega...

O sal seca a boca

A lágrima mata a sede

Engole o sangue que o coração bombeia, estafante.

Mas os olhos brilham. Encontrou o seu valor.

Ancora a alma na pedra da solidão.

Alí há amor.

Toma para si uma concha dura e fria.

Corta-se os dedos,

Abrem-se caminhos pela mão

O marisco resiste, magoa.

Mas o principiante marinheiro não se entrega.

Audaz, a si mesmo não perdoa.

O corpo se ofende, chora, grita, geme

A ostra se entrega, abre-se

Na morte há vida.

Entrega-se a pérola.

O amor contido e escondido

Aguarda o esbravejar do peito

O sangrar das mãos.

Não há jóia sem o desgaste das mãos do ourive.

Mas há o lapidar da paixão insana.

Não há o ouro sem o sofrimento do corpo.

Mas há a cura das feridas de um sentimento abortado.

Não há pérolas para o nosso colar, se nesse mar traiçoeiro eu não me afogar.

Mas eu sei, chegarei ao fundo, sem quase nem respirar. Engasgarei com minhas próprias lágrimas, vomitarei as águas desse mar.

Mas voltarei aos seus braços, amor que tive.

Para o seu colo, outra vez, o meu corpo acalentar...

"O amor brota da dor. O que vem fora disso, não tem raíz, o vento leva..."