CAFÉ COM CANELA

O que aproxima razão de sentimento / num estreito elo / é manter a mente livre / falar não somente do que seja belo / é saber ouvir o que diz o coração / por certo aquela garota vê diferenças / entre o que ela e ele sentem / nem desconfia que gostar / não tem limite certo / é diluir a dúvida de que um dia tudo termine / e o que durar que seja belo / há de se dizer: bom, é não ter receios / investir contra incertezas / tomar para sí toda beleza / de onde nem sequer existe / ela sabe que não há de se sobrar tempo / sentimento se cultiva / sem buscar explicações / situações que ponham tudo em risco /

perde-se tempo com tanto e tanta coisa / que nem vale a aposta / e às vezes não há o que fazer / perde-se tempo com intrigas / brigas, ciúmes, desacertos / é preciso viver cada momento / como se nada mais houvesse / no fundo ela até desconfia / em toda alegria há um pouco de dor / em cada gesto uma procura / na aridez da guerra / pode-se encontrar amor? / na loucura, há lucidez e resistência (amar é um ato heróico) / a procura pelo perfeito / permeia cada olhar / em cada boca o eco de um beijo / no desejo, um jeito de ser / toque de corpo, coisa de pele / coisas que só a química explica / o beijo dela dá-lhe a sensação de álibi / para um crime perfeito / mas crimes perfeitos andam fora de moda / chegará o dia em que ela dirá: acabou / como todo começo um dia tem fim / a razão fala mais alto / do que pode o coração / mas o que ele sente não se acaba / com meia dúzia de letras / ele sabe: é preciso pressa para que se possa / exagerar no sentimento / escancarar a porta / sem isso, todo sentido se perde / o que ele quer é aquela garota / com sorriso de menina e malícia na medida certa / aquela garota, que também é atriz.

Wallace Puosso

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Wallace Puosso
Enviado por Wallace Puosso em 30/03/2006
Reeditado em 13/04/2009
Código do texto: T131034
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