AS MÃES, AS MARIAS, OS MAIOS
mães
dos pobres, dos partos, dos portos, dos pratos,
dos peitos grandes, do leite farto, do leito ausente,
descei – já – dos altares!
sede como as mães de pés sem chão.
Brincai de despir o colo sem aflição
[como as amas-de-leite]
e os suporte filhos
de todo peso a comer-vos seios;
como faltam dentes
em vossa boca murcha:
amamentada!
[dai-me o que comer]
mães
dos fatos gastos, dos sonhos prontos, dos pais ausentes
dos filhos mortos, dos beijos-pranto
com as mãos em cruz;
descei – já – dos altares!
sede como as mães sem a pronta sede.
Comprai cordões de ouro barato
[como as madrinhas]
nos camelôs das praças em dias de sexta-feira
presenteai os resguardos
sem furar orelhas:
não vingados
[seja homem ou mulher]
filhos são filhos!
[dai-me o que beber]
Ave-Marias, cheias de graça
no chão do Brasil ou numa praça d’um maio,
descei – já – dos altares!
não desmaiai à toa
necessário lutar
para que novas Marias não murchem Vossa boca.