Anoitecer

Quero, despido de qualquer tristeza,

caminhar pela orla como caminha o vento,

que levanta a areia e verga os coqueiros,

sentindo esvair-se de mim lentamente a vida,

agonizante como agoniza a luz no fim do dia

sufocada pelas brumas do anoitecer

Quero, quando a lua já estiver alta,

no seio da madrugada fria

perder-me em letargicas lembranças,

como quem bebe sôfrego da taça fria o vinho

mesmo sabendo-o letífero veneno,

pois a lembrança é doce dor que embriaga o espírito

e produz a saudade, sofrimento maior que flagela a alma

E quando enfim a noite for se dissipando

como água que escapa da mão em concha,

quero ver a luz do sol furando as nuvens

e começar a manhã de um novo dia

inebriado e entorpecido pela insônia,

caminhando trôpego pelas dunas vazias

Tony
Enviado por Tony em 26/04/2005
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