Essência e sentido

Ao mesmo tempo em que se lê

Nos rostos mais distintos

Nos olhos mais sem brilho

A mesma e triste amargura

de se ter vivido (em vão?)

longos anos em busca

de outros anos melhores.

Podem, os mais perspicazes

Divisar mesmo que tênue

Ou propositalmente oculta

Inegável satisfação:

Embora não alcançada

Inteira vitória, ter vivido.

Negue-se a valia da bravura

Neste mundo cão em que

Todo esforço é inútil

Todo sofrimento inevitável.

Negue-se a serventia

Do sangue derramado

No campo de batalha

Mas não renegue-se o campo

A vida, o tempo-espaço

Continuo a prolongar-se

Em ecos na eternidade

O largo-fundo contêiner

Onde tudo cabe quanto

Possa no infinito universo.

No imo de cada ser

Inegavelmente pousa

O prazer de gozar

O sublime dom divino.

Não há paz cristalina

Impura parca exígua

Maculada a conhecemos,

Multívagos cambaleantes

A um tropeço do tombo final.

Quando virá a mudança

O grito de liberdade

O rito de passagem?

Se não chega o futuro

Ameno compensa-nos

Tenaz esperança.

Foram-se os anos?

Concomitantemente chega

O prêmio: sabedoria

Em forma de cãs.