MEMÓRIAS DO ESPELHO
Do outro lado do meu espelho
há um outro eu exposto ao vidro.
Há os mesmos gritos
e as mesmas fomes, comportadas.
As mesmas faltas doendo sob controle,
num rígido gerenciamento,
colorindo memórias de instantes únicos.
Do outro lado do meu espelho
há gestos que a imagem não traz.
É preciso adivinhá-los acontecendo,
para que se transformem e ganhem corpo.
Há segredos revelados em segredo.
Dedos escrevendo carícias
no vidro aveludado pelo vapor,
deixando mensagens.
Olhos atentos apreciando os contornos
dum pescoço forte,
onde uma gilete esquia aventuras
em nevascas de sabão.
Do outro lado do meu espelho,
esperam-me todas as histórias
dos meus gestos por fazer.
E no meio, um vidro. Separando-me de mim.
Nov 2008