MEMÓRIAS DO ESPELHO

Do outro lado do meu espelho

há um outro eu exposto ao vidro.

Há os mesmos gritos

e as mesmas fomes, comportadas.

As mesmas faltas doendo sob controle,

num rígido gerenciamento,

colorindo memórias de instantes únicos.

Do outro lado do meu espelho

há gestos que a imagem não traz.

É preciso adivinhá-los acontecendo,

para que se transformem e ganhem corpo.

Há segredos revelados em segredo.

Dedos escrevendo carícias

no vidro aveludado pelo vapor,

deixando mensagens.

Olhos atentos apreciando os contornos

dum pescoço forte,

onde uma gilete esquia aventuras

em nevascas de sabão.

Do outro lado do meu espelho,

esperam-me todas as histórias

dos meus gestos por fazer.

E no meio, um vidro. Separando-me de mim.

Nov 2008

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 25/11/2008
Código do texto: T1302576
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.