SEGREDO

De que sou feita, afinal?

Da razão que me tolhe a visão

do que sou e para onde vou

e às cegas, perdida, me joga

de volta ao que já passou.

De uma luz que me afoga

nas profundezas sem-fim

dos meus piores tormentos,

lá dentro, bem dentro de mim.

De estranhos sentimentos

que me brotam sem parar,

desde que abri os olhos

até a hora de os fechar.

Dum ímpeto para expressar

o que não posso me negar:

dizer sim a toda forma de não;

calar o não pra fazer valer o sim.

De muitos abrolhos emersos,

em versos, da dúvida abissal.

Disto sou feita. Da vida,

um fractal.

Lina Meirelles

Rio, 24.11.08