TODO

Depois de ver tantos inteiros

falando de metades,

metades que não me pertenciam,

devo dizer ao mundo das metades que me pertencem

e que são porções trágicas

de meu todo.

Assim quero que fique claro:

Uma metade de mim é solidão,

a outra é abandono.

Uma metade de mim é dor,

a outra é sofrimento.

Uma metade de mim é injustiça,

a outra é subtração.

Uma metade de mim é lágrima,

a outra é tristeza.

Uma metade de mim é porrada,

a outra é cicatriz.

Uma metade de mim é ferida,

a outra é hemorragia.

Uma metade de mim é ódio,

a outra é desprezo.

Uma metade de mim é racismo,

a outra é intolerância.

Uma metade de mim é derrota,

a outra é subjugação.

Uma metade mim é sede,

a outra é estiagem.

Uma metade de mim é fome,

a outra é escassez.

Uma metade de mim é violência,

a outra é rompimento.

Uma metade de mim é pecado,

a outra é transgressão.

Uma metade de mim é agonia,

a outra é unção dos enfermos.

Uma metade de mim é pó,

a outra é morte.

Mas devo dizer também, ao mundo,

Com toda minha limpidez,

Que uma metade de mim é Fênix,

a outra metade é ressureição.