Às portas do sonho

Ai, que ondas quebram

à beira do mar,

vomitando espuma

e meus pés a molhar?

Ai, sente a sirene

melancolia gritar!

Senta aqui, tão perene,

em meu colo a sonhar!

Tu que sabes.

Eu não sei

qual querer

vem poder

do meu peito roubar

feições,

corações,

por sangrias a pulsar.

Quem alicerces encanta

e de prazeres se espanta,

a chorar e beber?

Que nas verdades mentem

com palavras molhadas

e estalos de canções calejadas?

Ora bolas,

não pinóia!

Dic bola,

sidi mola.

João Gilberto

e Cartola.

Shine, shine boots of leather.

Please, don’t stop now!

Io voglio sapere

che cose sono queste.

Assim,

que em Babel,

Sião e Camões

tenho brandas alucinações.

Do passado, tão feliz,

mentiroso e velho.

Do presente era dor,

então, passado;

do presente que é tão belo.

Encerro, pois,

se tu quiserdes.

Sou do que não era

e cresço no que fui.

Engrandeço a fuga curta,

repudio o retorno impuro.

Poeta cantat Troiam.

Poeta erat egum.

Fui amadus filius

et Veuni filii.

É visto então

que é tudo em si.

Seja no vocábulo impreciso,

ou nas luzes de Saturno.

Estou longe,

estou perto,

estou logo onde deito.

De tal leito

não mais saio.

Por Orfeu aguardo

com Dionísio a meu lado.

Estou pronto pra mais uma Morte,

que, de minha sorte,

se anuncia

na soneira e no galope.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 24/11/2008
Reeditado em 24/11/2008
Código do texto: T1300366
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