Folhas Azuis II

"Os dedos ágeis em folhas azuis."

Carlos Frazão

Descreve-me a hora que nunca vou viver – o corpo ondula por este poente breve -, as frases de qualquer noite onde fomos um aceno feliz. E os vales e os lagos se insinuam nos interstícios do vento, o nosso corpo deslizando pelo cais da existência,

descreve-me o futuro, as cidades voltam amanhã no delírio da aurora, entre árvores dum lugar habitável decifro o manto consumido da memória onde me encontro como sombra de mim. Sob a linha distante do mar recolho as sensações e o destino flui envolto às aves do mundo,

escrevo o real, a cujos símbolos imprimo o azul esvaído da luz outonal, um passeio pelas margens do mar, além dos olhos - quando o silêncio é um rumor vazio na luz longínqua. Meu hábito de sorver o instante ou a vivência prudente de contemplar a vulnerável espuma da

solidão – outra vez.

Escreve-me as frases indecifráveis em folhas azuis.