MENINAS A UM REAL

Filas em pontos de ônibus

Casebres rolando nas tempestades

Crianças do olho grande de fome

Mulheres secas amamentando

Gente comendo com os urubus

Meninos vendendo drogas

Nas favelas dormem corpos nus

Filas de inscrição para concursos cartas marcadas

Natal sem família

Crimes hediondos

Trens suburbanos

Coletivos fedorentos

Escolas sucateadas

Na bolsa da professora somente mágoas

Hospitais de indigentes

A morte exercitando o sadismo

Crianças sem futuro

Adolescentes bêbados e drogados

Meninas desabrochando a um real

Outras mortas pelo punhal

Fumaça de guerras terminadas

Acendendo o fogo de novas guerras

Pobreza

Miséria

Tudo é matéria social

Fogem poetas e musas

Da imundície

Do crime em macrocosmo arquitetado