MITO

MITO

Sandra Ravanini

Levo o clamor em enxurradas de temperança,

tenho no meu peito a cicatriz da desigualdade,

um corpo dança com a bandeira branca na lança,

revoam as súplicas na voz oprimida da liberdade.

Duplo sentido dessa luz quando presa em grilhão

sangra um grito na chibata da dita anarquia,

saio intacta das trevas e das luzes sem religião

e o luzido esconde seu medo na abadia.

Sorvo desse silêncio a comunhão de meu mito,

não me iludo ante falanges de brio tão falaz,

pois meu grito é a oração ao sombrio que eu fito

e, da mão que mata a fome, já sustenta essa paz.

27/03/2006