SOLILÓQUIO NO PARLATÓRIO

Oras,

se te falo, logo, então descompreendes

ou confundes, ou transformas,

não é mais o que falei.

Minhas idéias não são mais minhas,

são do ar, e depois tuas,

ou vossas, ou de ninguém.

Egoísta?

Bem prefiro tê-las comigo,

se soubesse de um arquivo

idéculo.

O meu só, para mim somente

para ti solidão, pra os outros sol,

ou nota musical.

Ah! Minhas idéias não são mais minhas

deve ser o contato com a língua,

que prova tantos sabores,

e confunde os dizeres.

Mas digo o que penso! Ou omito? Não minto.

Tal polén no fecundo ar,

vão brotar em outros androceus, gineceus

oh, hibridismo, e da parte que colaborei

pode sair uma goiaba, um crisântemo,

um aniversário, ou outro polén.

Há quem diga que depois da via-láctea

perto da fábrica dos anos luz,

há um grande galpão,

onde as palavras fugidas vão habitar.

E brotam em planetas, por isso há tantos

quantos os vernáculos pronunciáveis,

e o universo pode vir a sofrer de planeticite.

Uma infecção nos vazios

cuja solução é a telepatia.

Vocalicites.

Terei que ficar falando sozinha?

Helena Istiraneopulos
Enviado por Helena Istiraneopulos em 28/03/2006
Código do texto: T129908
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