Turbilhão de sonhos
A vida é, sempre, um turbilhão de sonhos,
(Um mundo de ilusões que em nós flutua)
Sonhos que tombam, hirtos, nos medonhos
Murais da realidade fria e nua...
Sonha a criança com o calor materno,
Com a tepidez do seio que a alimenta...
Um dia se desmama e o sonho terno
Sufoca e mata... Outro sonho ostenta.
Crescido está. Agora quer brinquedos...
Correr com a meninada... Dar peladas...
Trepar, ansiosamente, os arvoredos...
Jogar bola de gude nas calçadas...
Um dia, cresce mais. É adolescente.
Sonhos de amor em si formam cascata...
Esquece os seus brinquedos, friamente,
E os sonhos lindos, rudemente, mata...
Agora é a mocidade, é o tumulto...
O fogo das paixões... Lindas quimeras...
O amor no coração tomando vulto
E, apenas, conhecendo primaveras...
Eis, afinal, realizado o amor.
Aquilo que passou, passou. É certo.
Os ímpetos sufoca, com valor.
Seu lar é um novo sonho, um céu aberto...
Os filhos vão chegando... É iniludível.
Alegram já, seu doce lar querido!
Deseja protegê-los, convencido
Que, apenas, o saber é indestrutível
E, sonha vê-los do porvir, seguros.
Escolas não lhes faltam, certamente,
E os sonhos seus, tão cristalinos! Puros!
Realidades tornam, felizmente.
É natural, compreensivo e humano
Que o tempo passe e os sonhos nossos leve,
No palco da ilusão descendo o pano
E em nossa cabeleira pondo a neve...
Por isso o velho corpo, enfraquecido,
Num turbilhão de sonhos, soterrado,
Cansado de lutar, de ter sofrido,
Num hospital, por fim, é internado.
É muito grave o seu estado, agora,
Do seu leito de dor, quase sem vida,
Vislumbra e sente a vida rir, lá fora,
Num turbilhão de sonhos envolvida.
Contudo, sonha! Sonha sempre! Sempre!
Sonha sarar e realizar seu sonho...
E que, jamais, em sua vida entre
Um dia amargo assim e tão tristonho!...
E aquele homem, que sonhara tanto...
Sonhara tanto quanto eu. Suponho...
No seu leito de dor, calcando um pranto...
Sonha, talvez, seu derradeiro sonho...
Escrita em Janeiro de 1962.