O Pão Pra Comer, O Chão Pra Dormir, O Deus Pra Não Crer
Ele grita ele grita
Ele berra mais que nós
Ele vive na rua
Ele dorme no albergue
E se arrasta indiferente
Entre quem se acha gente
Ele grita ele grita as verdades
Que ninguém desacredita
Ou tem coragem de ouvir
E aí ninguém lhe dá ouvidos
Porque isso dói demais dói demais
Ouvir o que esse pobre homem
Vive a dizer
Ele grita ele grita
Ele berra mais que nós
E ainda assim gritando mais alto
Ele é quem menos tem voz
Ele eté se cala por um prato de comido
(Silêncio momentânio da boca cheia)
Ele canta Roberto Carlos depois da dose pinga
(Alívio momentâneo da embriaguez)
Ele está abandonado
E critica os enjeitados
E critica os ajeitados
E os ricos e favorecidos e encaixados
Ele grita ele grita
Ele berra mais que nós
E ainda assim gritando mais alto
Ele é quem menos tem voz
Não tem onde cair morto
O que arrebata o medo da morte
O medo da vida o medo de tudo
E critica um governo
E critica os governos
Me critica às vezes me critica
E me pede um trocado
Ele grita ele grita
Ele berra mais que nós
E ainda assim gritando mais alto
Ele é quem menos tem voz
Não tem Deus e não quer ter
Não tem voz não tem vez não tem nós
Vez tem fome e não quer ter
Mas eu sei que em silêncio
Bem baixinho no seu canto
Viaduto vendo luzes muitas luzes
Ele chora em segredo
Pela dor de não poder
Participar ou pertencer
Dessa zona de concreto
De animais vestindo ternos
Que chamamos de cidade
Ele grita ele grita
Ele berra mais que nós
E ainda assim gritando mais alto
Ele é quem menos tem voz