Sopro
Pareço sentir novamente.
Há a brisa morna
que toca e enforca
a razão que,
mentirosamente,
tento seguir.
Corta meus olhos
fechados e cansados
do ver-me tão
outro no espelho;
invade viril
minhas narinas sádicas
e cortadas.
Da brisa respiro,
sufocando o calar
que matava-me a idéia.
Dispo-me deste jeans
e das camisas de golas estreitas.
Dispo-me de toda a
enganação que fui de mim mesmo,
por não aceitar
quem sempre era.
É desta brisa que tenho a resposta
de minhas perguntas tão estúpidas
e sem voz.
É nesta brisa que transcendo
e volto ao meu eu tão único:
A verdade da alma
estranha;
a pureza do mal
inventado.
Traz a mim
palavras sorrateiras,
boêmias e que caçam
linhas tortas,
a endireitar o fluxo
fugaz e assassínio
do pensamento.
Sim!
Carrega a brisa
toda a fonte de pecados
e dizeres mal(-)ditos.
Planta no solo fértil
de minhas páginas
as sementes do bem
irremediável e
do repúdio a
nossas máscaras cotidianas.
Estou de novo
a sentir o arrepio
advindo do sopro
dos cânticos
sinistros e majestosos
das musas depravadas.
Meus pés
descalços mais uma vez
no gélido e instável
chão de versos
e estrofes esquálidas.
É esta brisa
que me devolve
a mim mesmo.
Ressurge minha alma
irradiando o discurso
sangrento e rebelde,
que outrora calara-se.
O poeta,
negro e circunspecto,
volta e estremece
pernas com prazer
e terror.
Sua palavra é mais seca
e menos doce.
É real e
inerente
à beleza contente
dos dentes que
sorriem a qualquer rima.
Está na brisa
minha inspiração
e o sentido
sem qualquer sentido,
ou métrica que
se espere.
Está no ato de
fingir ser o fingidor
do que não sei fingir:
Poeta,
e só.