SER POETA
Ser poeta é desenhar
capturar a mínima essência
de qualquer esgar da vida
mostrar sentimentos palpáveis
sonorização elevada
numa discrepância velada
de tudo o que está solto no ar.
Ser poeta é ressoar
é gritar aos quatros ventos
tudo que se encontra guardado
abafado em seu caminhar.
É o amar absoluto
sem se importar com quem
é a entrega indefinida
sem se importar pra quem
é o querer só se entregar.
Ser poeta é escrever
é sentir, sofrer, sorrir
independente das ondas do mal
que assolam o seu limiar.
Ser poeta é o amor infinito
tudo que explode implodindo
tudo que cerca escondendo
todo o tempero lançado
mudando o seu paladar.
É dançar valsando no tempo
sentindo o vento em seu rosto
na madrugada encantada
com sabor de poluição.
A música bem alta e tristonha
é o grito mantido preso
calado em seu coração.
Vai tocando fundo na alma
como um berrante estridente
ecoando por toda uma estrada.
É a vontade de ir
mesmo querendo ficar
é o anoitecer da vida
com o sol teimando em brilhar
mesmo que em outro lugar.
É o esquecer das lembranças
numa artimanha do tempo
o lembrar das entrelinhas
momentos para serem esquecidos
que fizeram sua glória.
Ser poeta é isso aí
como uma borracha afinada
passar por cima de tudo
apagando as seqüelas marcadas
mesmo que estejam em feridas.
Mostrar que a vida persiste
que se deu a volta por cima
renascendo completo das cinzas.
Apesar do enterro marcado
continua ainda vivente
querendo recomeçar.
Bem vindo de novo pro mundo
como um vencedor sem troféu
vai seguindo seu caminho, sua sina
contando enfim, sua história
a vitória do bem sobre o mal.
Neli Neto
21.04.03
01:07hs/RJ