Welcome to the Machine
Sinto esse toque
suave e dançante.
Bate em meu peito,
dolorido
e tão esquálido,
um coração
outrora triste.
É de compassada
atenção,
na métrica
falsa e arguta,
que se busca
em meio a indefinida
presença desta
razão inimaginável.
O que quero
alcançar hoje
é algo ideal;
tão sonhado
por nós,
que nem
sabemos
porque o
queremos
e quem realmente somos.
Sim,
este desejo
faz-nos
duvidosos,
belos
e contraditórios.
Acorda-nos (?)
todos os dias,
a pintar na vista
o verde
de verdades
que criamos
para continuarmos
vivos.
Ocorre que,
a coisa de
que se trata,
invade indiscriminadamente
nossa autonomia
ínfima
e já não mais
viva.
Devorada está
na sala de jantar
por senhores
de aparente
beleza,
e por damas
de vaginas baratas
Pessoas como
deuses que não
sonharam,
mas controlam
nossos desejos,
vontades e vocações.
De cima
de seus
tablados
de merda
humana
cantam
nossa sentença
e o preço
do imposto
que pagamos.
Lambem-nos
os intestinos
feridos
e obesos.
Injetam
a cachaça
barata
em nossos
fígados alcoólatras
e bafejam
o câncer
e as enfisemas.
Estamos em
seus quintais,
plantando
cifrões
e colhendo
a fome
nada metafórica.
A mentira
de vivermos
no ciclo
dos mesmos
espaços de sempre.
É como se fosse
a Idade Média,
cheia de seus
desígnios e dogmas;
o destino traçado
por um deus invisível
e pai de nossos
senhores.
Venham, chefes
e pais
de nosso mundo
irreal
e desenhado.
Pintem
a vida
coerente e
respeitável
em nossas
retinas
danificadas
por seus
comerciais de sabão
e “reality shows.”
Nós
preparados
estamos
agora
e por
vós esperando.
Atentos
à ordem
que virá
e resignados
a aguardar
vosso pênis
cálido e doente
arregaçando
todo o nosso
pobre e estreito
cu.
Cá este
toque que descrevo
fez-nos
novos e lineares.
Trouxe-nos
a beleza
artificial
que compramos
em dívidas
de agiotagem.
É por isso
que canto
este toque
das mãos
macias e
impiedosas de
nossos senhores.
Dou boas vindas
a novos
e iguais ventos.
Sigo em nossa
vida medíocre,
correta e feliz.