Testamento de mim.
Fiz um testamento de mim,
e me doei assim,
em vida.
Doei quase tudo de mim,
só não doei, enfim,
o que não podia doar.
Meus olhos, com óculos e tudo
para algum sortudo
que voltasse a enxergar.
O fígado e o rim,
que os tirem de mim
para quem precisar.
O estômago, esse ser tortuoso,
para qualquer guloso
dele aproveitar.
Até o pulmão quis doar,
um pulmão vacilante,
pulmão de fumante
que nunca soube parar.
Só não doei meu coração,
pois o levo na mão,
para sempre te amar.
E não ia adiantar,
ele iria parar
em outro corpo, longe de ti.