Lavando a roupa suja

 

Peguei meus trapos de vida
que eu guardava indiferente,
pus em sabão na medida,

joguei sob a água corrente.

 

Estavam tão encardidos

com manchas tão refratárias

que alguns peguei sem prurido

e pus n’água sanitária.

 

Tantos outros co’amargura

de um passado já distante

tinham crosta assim tão dura

que joguei no amaciante.

 

Mágoas havia encharcadas

em lágrimas inda úmidas.

Pus pra secar na sacada

pra evaporar quaisquer dúvidas.

 

Alguma coisa, entretanto,

já estava bem desbotada.

Joguei no lixo num canto.

Já não serve pra mais nada.

 

Ensaboei, esfreguei

e pus tudo pra enxaguar.

Nada ficou, isso eu sei,

que sobrasse pra lavar.

 

Agora, findada a lida,

passado não é estorvo.

Como outras coisas na vida.

eis-me aqui:  “Lavou tá novo!”