Fluxo
Sem porquê
inicio
no corrente,
como um rio.
Sem preparo,
ou armação
saem soltas as palavras
filhas da percepção.
O sol
me queima a retina
de verdes falsos
que a menina
insiste em ver
em meio a
latrina.
Arde minha
mente
em desejo
tão pungente
de criar
sem motivo,
ou aparente
significância
nas palavras
que profiro.
Prefiro, pois,
"poetar"
sem reparo
ou conserto,
advindo do
concerto
das máquinas
de rodas
que ensurdecem
e transcendem.
Procuro
livre
ser
o mais
intrínseco
da humana
animalesca
presença
de existência
contraditória.
O acerto
burro
e o erro
cândido,
que ofusca
verdades
que mentem
ao que sinto
e ao que
penso ser
fingimento
e cicatriz
poética,
sintetizam
e dispersam
num instante
a febre
e verve
de criação
que "alumeia-me"
a visão.
Escureço
e realizo
o sentido
sem sentido
se corrijo
ou se no erro
permaneço.
O que posso
e quero
é a feitura
de canções antigas
e letras vermelhas
que pintam céus
e galáxias
no universo
de imagens
tão falidas
e de palavras
esquecidas.