NO RESTO DE ROSTO QUE TENHO

Talvez eu não seja o único a levar a culpa pela nostalgia,

é que eu tenho uma profunda necessidade de encontrar

alguma coisa com a qual me identifique.

Hoje eu encontro músicas tão vugares,

diversões tão vulgares

pessoas tão vulgares.

Há pessoas que acreditam que a arte esteja repleta de gênios.

Eu só queria um pouco de emoção naquilo que olho, escuto e leio.

Eu só quero um pouco de verdade entre tantas coisas fabricadas.

Procuro em minhas próprias canções uma melodia que possa

abrandar esse desejo de velhas novidades.

Em qualquer lugar que eu vou me canso de ver pessoas

caindo de joelhos aos domingos e não consigo me acostumar

aos gestos que não me trazem nada além de incompreensão.

Eu quero alguém para ocupar meus olhos todos os dias,

Eu quero alguém para escutar tudo o que eu preciso dizer,

mas a massa anda tão compacta que fica difícil distinguir

alguma coisa entre tantos olhos que nada vêem.

Me assusta a coisa da propaganda distorcendo vontades

e criando tantas palavras belas sem nenhum conteúdo.

Tento desenvolver minha personalidade diante da enxurrada

de péssimas idéias que me cercam todas as manhãs quando acordo.

Eu não posso mais esperar pelo amanhã que veio anteontem.

Eu não quero mais escutar você em silêncio por não ter o que dizer.

Antigamente eu organizava o meu lixo para não ter de jogar nada fora,

Hoje eu não guardo mais nada em minhas caixas esquecidas,

e no rádio ainda tocam aquelas canções antigas

que parecem tão modernas.

Talvez isso tudo seja apenas o trem da juventude que se foi

deixando alguns passageiros pelo caminho por estarem atrasados.

Em alguns momentos, eu gostaria muito que o tempo

demorasse mais a passar...