PERDIDO NA MATUTAGEM.
PERDIDO NA MATUTAGEM.
ONILDO BARBOSA
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Quem pergunta quem sou eu
Eu nem sei lhe arresponder
Eu sou um pobre matuto,
Que nasceu só pro nascer
Vivo num mundo sem crença
Desafiando as sabença
Dos dr. bem estudado,,
Sou coroné sem patente
Na estrela do sol quente,
Meu pensamento é forjado.
Sou cabra desconfiado
Feito preá de serrote
Sou perdido, sou achado,
De tudo eu sou um magote;
Sou grito de lavandeira,
Sou cururú de biqueira,
Sou promode, sou que nem,
Que nem tudo eu sou um pouco
Sou sertanejo, cabôco
Que nunca invejou ninguém.
Sou caldo de cana puro
Na bica do moedor,
Calango de pé de muro
Se escondendo do calor,
Sou rangido de porteira,
Cigarra de catingueira,
Assovio de caipora,,
Vento que espanta o sofrer,
Cuma quem vem pra dizer,
Que a chuva ainda demora.
Sou uricurí maduro,
No festejo dos meninos
Sou moleque sem futuro
Dos cafundós nordestinos
Sou a correia da sela
Que prende o nó da fivela
Da cangáia do jumento,,
Sou da tropa desgarrada
Que bota o pé na estrada
Pra fugir do sofrimento.
Sou cariri, sou bibocas
Vale estreito, sou riacho,
Sou corredor das tabocas
Sou café feito no taxo,
Sou abelha jandaíra
Sou mocó de macambira
Com medo de caçador,,
Sou matuto, pé no chão,
Mas nos dias de eleição
Eu também sou eleitor.
Sou eleitor com vontade
Chega dá nó na garganta
Votando pela verdade
E às vezes nem adianta
Muitas vezes tem votado,
Em prefeito deputado,
Que se diz amigo meu,!!
Cumprimenta-me, abraça,
Depois que a política passa
Nunca mais se lembra deu.
Eu sou o zé da enxada
Da foice, do jereré,
Talvez um zé quase nada
Mas não deixo de ser zé
Zé da lenha, do roçado,
Zé pastorador de gado,
Tangedor de burro manco,
Zé do povo, zé ninguém
Zé, que não tem um vintém
Nem no bolso nem no banco.
Sou miolo de pereiro,
Insistente e cabeçudo
Que crer num Deus verdadeiro
Um deus a cima de tudo.
Um deus de quem eu sou filho
Deus da espiga do milho,
Deus da fulô do feijão,
Nesse sim eu acredito
Sem pai nosso, sem bendito,
Igreja ou religião.
Sou grito de patorí
Flexa- peixe na lagoa
Pescador de lambari
No balançar da canoa
Muito mais que tudo isso,
Sou abelha de cortiço
Com seu corpo pequenino,
Nesse vai e vem medroso,
Traçando o mel saboroso
Na colméia do destino.
Eu sou casaca de couro
Sou espora de metal
Sou zumbido de besouro
No pendão do milharal
Eu sou o brilho da onda
A lua cheia, redonda,
Branquinha da cor de um véu,
Emborcada sobre a mata
Igual um prato de prata
No guarda louças do céu.