Divagação da flor vermelha
A flor e a dor
minha cor e o sangue da rosa
a poesia, o comentário, a folha, a prosa
descendentes do presente
os frutos do futuro
os passos do passado
minha cor e a lágrima da flor
a unha quebrada da perdição
as frutas podres sobre a mesa no chão
as cortinas no espaço pregadas
na cruz pregada a distorção
a distorção de uma guitarra barata
as baratas, os vermes da incoerência
minha cor e os olhos da rosa
a íris verde-limão
o leme, o lema, o emblema
a luxúria do fogo da cremação
o sexo sem nexo
minha cor e talo da flor
minha dor e a raiva da cor
o grito!
a britadeira, a furadeira, buraqueira, pão...
sem sim ou senão
a tinta e a mancha
o copo e a sequidão
sonoro, inodoro
prédio sem fiação
base sem o que falar,
poema sem intenção.
Mentira sem pressa
presa sem perdão
engano sem dano
perto da desolação
mais quente que o inferno
mais frio que o paraíso
mais lento que o trovão
e sem correção... sem coragem e sem lição
belo e vazio na corda bamba da burrice
mentisse ou falasse
calado ficasse na cela da imaginação
na célula da minha cor
e no selo da dor.