Mais que modernista

Edson Gonçalves Ferreira

Oswald de Andrade tinha razão

Me dá um cigarro é mais fácil de dizer

A gramática diz não

Não se inicia oração com pronome pessoal do caso oblíquo

A reforma chegou

Sub-humano, agora, perde o h

Ninguém vai poder pronunciar diferente

A escrita será subumano

A divisão silábica continua sub-hu-ma-no, ouviram

Quem estuda e trabalha comigo fica perguntando

Digo: calma, gente

Observem, gente é vocativo

Vem, sempre, isolado por vírgula na oração

E o aposto, quando você explica algo, também vem entre vírgulas

Vocês, meus queridos alunos, não devem se preocupar

Leiam mais, escrevam mais, mas não se esqueçam

Gente é substantivo, nada tem a ver com agente

Agente é quem opera, agencia, prestem atenção

Falando nisso, os verbos crer, dar, ler e ver

Quando na terceira pessoa do presente do Indicativo,

Não terão mais acento: creem, deem, leem, veem

Mas vocês, meus amores, terão que tomar assento

Para não ficar ao vento

Porque muda-se a escrita e não fala

Você escreverá epopeia, mas lerá epopéia, entendeu

Essa reforma vai trazer uma confusão

Desde que deixaram de ensinar gramática

A escrita ficou no prejuízo

Quem não conhece os sufixos e os prefixos ignora

Poetisa é com "s", mas as escolas dizem que decorar é pecado

Não é não, se fosse, eu não poderia recitar: Pessoa, Camões

Ah, é tão bom aprender de coração

Sim, de cor, vem de "de cordis"

Do latim, aprender de coração

Quem ler esse meu poema-aula, desculpe-me

Uma vez professor, sempre professor

Podem puxar minhas orelhas

Mas, por favor, não me deem um cigarro

Detesto!

Divinópolis, 16.11.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 16/11/2008
Reeditado em 16/11/2008
Código do texto: T1286218
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