NÃO SEI
Não sei se é preciso continuar a viver
Não sei se serão preciso palavras e gestos
Afinal
Mais cedo ou mais tarde
Tudo ficará esquecido
Minúcias
Delícias
Astúcias
Argúcias
Ficarão no limbo de uma vida
Que já não vê mais a repetição dos momentos
Na paisagem que nunca deixou de ser a mesma
A ternura é uma ficção travada na memória
A felicidade se perdeu
Na incerteza nossa de cada dia
Onde cada instante era feito de lágrimas, sangue e suor
Tudo se perdeu
Inclusive a dúvida de saber
O que seremos quando as horas forem infinitas
Não sei se é preciso
Imaginar os labirintos e o preciso instante
Em que tudo será silêncio
Todas as metáforas já foram sonhadas
E os milagres não foram feitos
No paraíso perdido da memória
Até quando
Será preciso continuar as parabólas
Para que entendamos os mistérios da vida?
Existimos apenas
Para que o nosso destino
Seja uma semente de dúvida
Necessária à existência humana
Corajosos são aqueles que dizem sim e não
E se declaram culpados
Dizendo as mesmas palavras
Repetindo os mesmos gestos
Encharcando o rosto de lágrimas
Sem saber qual será a sua parte no infinito.