MALDITOS FIOS
Estão em cima de nós,
pendurados, frouxos, esticados,
olhando-nos como se não existÍssemos.
Que importa de onde saíram,
basta saber que invadiram a paisagem.
Multiplicam-se diariamente,
estorvando o voô das aves,
às vezes param de repente,
e às vezes prosseguem como serpentes.
Que importa sua utilidade,
basta saber que violentam as árvores.
Vejo-os por toda parte,
na rua sem saída, na avenida, na viela,
entrando em todas as casas,
na igreja, nas fábricas, na favela.
Já mataram crianças
soltadoras de pipas,
mataram trabalhadores,
e logo cedo quando abro a janela,
e os vejo invadindo a manhã tão bela.
Resta o consolo de saber
que não existem no céu...
e nem no inferno.
MALDITO FIOS.