Inexistência

Vou fugir de casa...Não levarei nada

A não ser a roupa cobrindo o trapo...

Andarilha...Ambulante farrapo

Desaparecerei a qualquer preço

Fingirei esquecer meu endereço

Dobrado com o passado...

Sairei andando por ai...

Farei fogueira debaixo da ponte

Tomarei banho na fonte

Ou invadirei um ambulatório

Pedindo vaga no sanatório

Dizendo ao doutor que ouço vozes...

Brigarei pela bituca

E pela última ponta também...

Serei cidadã da terra de ninguém

Aceitarei uma dose e um porre

Guardar pra que, se já morre?

Já foi usado e quase todo roubado...

Vou ganhar o mundo...

Porque nunca o tive

Não quero mais o que me prive

Vou dormir no relento

Vou esquecer meu lamento

E esquecer meu nome

Olharei na vitrine da ilusão

Pelo cobiçado pedaço

Desejando inteiro o bagaço

Me debruçarei no Viaduto

do Chá, pontualmente as 19 em luto

E verei se a altura é suficiente

Para antes de chegar ao asfalto

Eu não ver espalhado o monte de esterco

E perceba que cada vez em nada me perco

Porque sou essa coisa que se arrasta

Essa insana que o mundo devasta

Transformando-se em líbelula...

A voar...

São Paulo, 14 de Novembro de 2008

Shimada Coelho A Alma Nua
Enviado por Shimada Coelho A Alma Nua em 14/11/2008
Código do texto: T1282529
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