Amanhece...
Amanhece lá fora...
A cidade estúpida começa a ficar
mais estúpida.
A realidade inteira adquire tons de tragédia.
Pessoas que passam,
que passam sempre e nunca ficam...
Amanhece...
E um burburinho furioso começa a tomar conta
do que restou da noite.
E eu, da janela do quarto que não é meu
(a mania de pegar tudo emprestado)
absorvo tudo, observo tudo, e tudo me angustia.
Amanhece...
E a idéia de suportar mais um dia
põe-me aflito, desesperançado.
Não, tudo menos a repetição!
Tudo, menos suportar de novo as horas
que põem um certo equilíbrio nessa loucura toda!
Tudo, menos amanhecer o dia!
Ah, mas sempre amanhece...
Sempre foi assim, por que hoje haveria de não ser?
Amanhece o dia...
Mas dentro de mim a escuridão ainda é muda e total,
dentro de mim ainda faz frio,
dentro de mim, não amanhece nunca...