CULINÁRIA ESTÉTICA

O poema sem vestir fardão

literário: só, de preferência,

uns parcos condimentos formais

e bem fel no seu fazer artístico.

Mas nenhuma colher de chá

ao metafórico carnavalesco,

pois que se vão aos porões do diacho

todos os “-ismos” em estilos de época.

A nova culinária estética:

questionamentos sócio-culturais,

política, certos valores, a vida

e bastantes murros na venta do cão.

Tudo vale, menos a degradação.

Vale ser brigão, xingar, ser até

pelo avesso ou derramar-se à amada.

Tudo, tal diz “Che”, sem perder a ternura.

Queres amigar-te? Faze-o com as musas.

Ajeita os passos de tua lírica,

mas repõe o caos a favor do real:

tensão, filosofias, exceto o fascismo.

O poema não é prosa, mas pode contê-la.

Ele carece da leveza latente

para coexistir nos livres conflitos

e o podermos recriar na vida, dia a dia,

a cada gota de sangue do nosso tempo.

Fort., 12/11/2008

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 12/11/2008
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