CANÇÃO JUNTO AO BERÇO

CANÇÃO JUNTO AO BERÇO

Johanna veio correndo

abrindo o corpo no vento

colher a rosa do amor

plantada à beira do tempo.

Johanna chegou na voz

da canção que não havia...

O mundo todo chorava

e só Johanna se ria.

E doce fazia o pranto

aquilo que ela cantava...

Se Deus ouvia seu canto,

seu anjo comemorava.

E tudo o que traduzia

sua canção tão serena

era a voz que não se ouvia

do seu lamento sem pena.

E pus seu sonho no vento

para ver aonde ele iria,

pensando que o vento fosse

sua triste cotovia...

Mas era uma ave tão leve

e sua canção tão suave

que até quase só me lembro

da canção e não da ave...

Johanna se deu à luz

do oriente à maresia

e a aurora de seu corpo

se deu ao corpo do dia.

Passageira do infinito

que os sonhos agasalharam,

Johanna matou a fome

dos sonhos que a devoraram.

Pôs seus desejos nos rios

nos campos tanta esperança

que sua alma vive em tudo

enquanto o corpo descansa.

Há tempos me vem dizendo

palavra que não se ouvia...

Calada falava mais

do que aos gritos me dizia...

Vim devolver-te o caminho

que não foi de sombras nem sol

nas praias das mãos sem pedras

banhadas em mel e sal.

Vim devolver-te a esperança

na pousada de meus braços

sem vigília e sem pernoite

sem descanso nem cansaço...

Vim devolver-te meu pão

meu trigo meu alimento

que meus moinhos parados

deixaram passar no vento...

Mares calmos de enseadas

de meu sangue navegante...

Devolver-te o que me resta

no infinito desse instante!

A. Estebanez

Afonso Estebanez
Enviado por Afonso Estebanez em 11/11/2008
Código do texto: T1278513
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