Maria
Maria das noites,
das esquinas sombrias,
do perfume barato,
do vestido tão curto,
dos pecados constantes.
Maria que o mundo castiga,
que o tempo envelhece,
que os meninos ofendem,
que aos homens sacia.
Maria que vende seu corpo,
que sustenta seu filho,
que chora insistente,
quando a noite não ganhas,
quando volta sem pão.
Fico triste quando vejo Maria.
Maria sem culpa,
fruto da fome,
da maldade dos homens,
da falta de amor.
Esta noite Maria
tombou na calçada.
Em seu corpo inerte,
banhado de lua,
a vida apagava
como o brilho da estrela
na aurora se apaga.
Nem sequer uma lagrima
nos olhares curiosos,
nem mãos caridosas
a erguê-la do chão.
Na face serena,
seus olhos parados
pareciam perdidos
nas ruas da infância,
buscando por certo,
Maria menina
de tranças compridas
sem pinturas no rosto,
sem vestido vermelho
mas de vestes tão brancas
da cor de sua alma.
Correndo e cantando
de boneca na mão,
de olhos brilhantes
na luz das manhãs.
Esta poesia simples, tem para mim um grande valor pois, foi escrita quando eu tinha apenas 15 anos. Maria era uma prostituta de rua, muito conhecida na minha cidade. Observa-la, me fez ver bem cedo, a realidade do mundo. Este texto, é esta realidade, vista pelos olhos e, pelo coração de um menino que cresceu, sem deixar de ser criança.
Acioly Netto - www.guiadiscover.com