Maria

Maria das noites,

das esquinas sombrias,

do perfume barato,

do vestido tão curto,

dos pecados constantes.

Maria que o mundo castiga,

que o tempo envelhece,

que os meninos ofendem,

que aos homens sacia.

Maria que vende seu corpo,

que sustenta seu filho,

que chora insistente,

quando a noite não ganhas,

quando volta sem pão.

Fico triste quando vejo Maria.

Maria sem culpa,

fruto da fome,

da maldade dos homens,

da falta de amor.

Esta noite Maria

tombou na calçada.

Em seu corpo inerte,

banhado de lua,

a vida apagava

como o brilho da estrela

na aurora se apaga.

Nem sequer uma lagrima

nos olhares curiosos,

nem mãos caridosas

a erguê-la do chão.

Na face serena,

seus olhos parados

pareciam perdidos

nas ruas da infância,

buscando por certo,

Maria menina

de tranças compridas

sem pinturas no rosto,

sem vestido vermelho

mas de vestes tão brancas

da cor de sua alma.

Correndo e cantando

de boneca na mão,

de olhos brilhantes

na luz das manhãs.

Esta poesia simples, tem para mim um grande valor pois, foi escrita quando eu tinha apenas 15 anos. Maria era uma prostituta de rua, muito conhecida na minha cidade. Observa-la, me fez ver bem cedo, a realidade do mundo. Este texto, é esta realidade, vista pelos olhos e, pelo coração de um menino que cresceu, sem deixar de ser criança.

Acioly Netto - www.guiadiscover.com

Acioly Netto
Enviado por Acioly Netto em 11/11/2008
Reeditado em 04/12/2017
Código do texto: T1277068
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