OS DOIS LADOS DE UMA VIDA
Ervas,
Cresçam no campo
Reverdeçam os lagos com suas cores
Ao refletir a imagem em suas águas
Absorvam o orvalho matutino
E sirvam no seu vigor
Como inspiração para os artistas
Hoje,
Os verdes campos apreciados
Recebem os casais enamorados
Que pululam inspirando o seu perfume.
Corram noivos,
Corram amantes sobre os campos
Saturem suas retinas
No resplendor dos seus contrastes
Voem insetos
Transfiram o olor
De suas flores ao mel.
Aproveitem porque é hoje,
O amanhã trará seu próprio calor
O verde da erva amarelará
E o amarelo do campo enegrecerá
Admirem-se, oh gotas de orvalho
Chorem amantes,
Lamentem-se artistas
Porque o vosso folguedo já passou.
Já não se pode ouvir no teu manto, oh campo,
O murmúrio dos casais apaixonados,
Nem o roçar do pincel do artista em sua tela.
Somente um incômodo crepitar no fim do dia
Anunciando que as tuas bodas terminaram.
A verde alegria do campo
Agora se verteu em lágrimas
E os sinos badalam
Anunciando a sua partida
Novos campos
Novos casais enamorados
Novos amores destruídos
Novos pintores desterrados
Deserto! Canta de alegria...
O cacto rude expele espinhos
Cresce lento e solitário,
Onde não há música,
Nem melodia, nem poetas,
Nem casais em suas bodas
Fotografando sua memória
Chega o sol
Crepitam os poucos arbustos verdes
Refugiam-se os lagartos sob as rochas
Evaporam-se as últimas gotas de água,
No entanto, o deserto no seu íntimo canta de alegria.
Onde cresce o espinho e a aparência é rude,
Mina água doce como um rio
Passaram-se os anos
Corações de amantes já partiram
Os campos foram replantados,
Mil vezes renascidos...
Alegria passageira ...
Choro duradouro...
A aparente ilusão da erva
Enfeitiça os homens
Enquanto isso,
O deserto canta
E melodia suavemente a sua paz
Porque se passaram os anos,
Fogo e calor foram suas visitas mais constantes.
E, quando a língua já se apegava aos dentes,
Os casais voltaram ao deserto,
Em busca de água.
Ali perceberam que
O cacto em sua velhice
Tinha a água mais doce do que em sua juventude.
O sol impiedoso o ajudou a concentrar o seu dulçor
E, no mais oculto do deserto,
Suas raízes buscaram a profunda capa
Trazendo de presente aos amantes
O frescor adocicado de suas águas.
Mel silvestre de raras flores,
Dulçor do forte sol no cacto ardente,
Hoje abrigo de lagartos e de serpentes
Amanhã fonte de vida a mil amores.
(Espanha, 24.03.00)