A TIMIDEZ DA ÍNDIA

Formosa tapuia

Que fazes perdida

Nas matas agrestes

E ardente sertão?

As matas são feias

São tristes e frias

Não queiras tão moça

Morrer de sezão

Não quero carinho

Na mata nasci

Se delas não gosta

Nas fiques aqui

Se fores comigo

Pra minha cidade

Serás tapuinha

Por certo feliz

Vestido de seda

Sapato de couro

Adereços de ouro

Não são coisas vis

Teu corpo tapuia

É lindo e delgado

Torna-se mal feito

Vestindo algodão

Não quero carinho

Sou pobre roceira

Só faço trabalho

Com roupa grosseira

Não quero carinho

Seu ouro é falso

Meus pés não se estragam

Andando descalço

Formosa tapuia

Não fiques zangada

Não tenha maldade

Com o seu benzinho

Vamos para o porto

Pegar um conforto

Comer lata de doce

Beber copo de vinho

Não quero carinho

Sou pobre tapuia

Não bebo no copo

Só bebo na cuia

Brasília, 07.11.2008