Cala-te, boca!

E eu que acreditei na imunidade dos poetas...

Cheguei a confiar na conquista da liberdade de imprensa!

E sonhei em um dia ser uma Imortal.

Eu que tive por escudo a licença poética

E na força das palavras depositei toda a esperança da minha salvação.

Eu, que a Deus agradeço por ter afastado de mim o cálice de 1964...

EU! Eu, que só falei de flores, e gritei os meus amores!

Que me inclinava ao do alheio, só as doces miradas.

Só as boas intenções me deixavam ruborizadas...

Agora recebo, em mãos, o Ato Institucional Nº. Cinco:

Que se apaguem os meus versos!

Que se desmanchem de mim as suas digitais.

Sejam lavadas todas as marcas, todas as palavras

Escritas pelas paredes, com batom!

Censurado seja o amor, em todas as suas versões!

Calados à mordaça sejam os meus versos!

E que surdos sejam todos aos meus gritos de horror!

Porque quem inventou o pecado, realmente se esqueceu de inventar o perdão!