Chuva Pálida
Se esta chuva que cai
vadia e displicente
afogasse minha dor.
Se o choro dos céus,
o pranto divino
dissolvesse minhas dúvidas.
Se nesse coração
fizesse brotar a calma
e a serenidade que nunca tive.
Se em minha mente
lavasse todo o devaneio vivaz
que me faz diferente.
Se tudo isso
fizesse esta chuva,
seus raios não me assustariam tanto.
Seu frio,
cortante e ferino,
não congelaria o amor em mim.
Sua liquidez,
densa e aurática,
não findaria meus sonhos.
Se de tudo isso
fosse feito o pluvial momento,
sua ventania não me levaria tão longe.
Só que não é como quero,
ou preciso,
mas da maneira correta.
Sela nos espelhos outra chuva,
que, hora ou outra,
teima em nascer.
Sobram, apenas,
ruídos e luzes;
o frescor do cheiro de terra molhada.
Sofre, novamente, minh’alma;
fatigada e cálida,
sem a pureza daquela chuva pálida.