ADEUS

ADEUS

Lílian Maial

Partimos, e nunca fomos embora.

Aceitamos a distância como a cura,

a saudade, como lembrança remota,

as lembranças, os retratos não tirados

daquela paisagem mal-vivida.

Uma licença dos homens, por tão curto tempo, como a vida,

num segundo, ali, nossa, tão nossa e tão imprópria,

tão necessária e tão sem sentido,

tão impunemente proibida.

Nunca deitamos à sombra, pois éramos a sombra de nós.

Saímos, mas não fomos embora.

Não conseguimos deter o desejo, a pele.

Nossos cheiros se misturaram no instante,

e nossas bocas nos sabiam o gosto,

nossas mãos ansiaram os gestos,

nossos corpos adivinharam os toques.

E nos bebemos tanto,

com tanta intensidade,

nos embriagamos de tal forma,

que mal pudemos suportar a dor de tanta entrega.

Mas havia nós e os outros nós,

a vida, a realidade e a corda de amarrar o peito.

Quisemos muito ir embora. E achamos até que fomos.

Emudecemos os vulcões,

secamos as bocas ávidas,

reprimimos os pecados mais e mais,

os sonhos dos doces encontros.

Até nossas palavras foram amordaçadas

e nossos poemas choraram o silêncio.

Cuidamos tanto dos detalhes,

maltratamos tanto a doçura...

E quando tínhamos a certeza de que havíamos ido embora,

uma fagulha cadente, uma estrela sem aquela ponta,

a mesma música tocada insistentemente na cabeça,

aquele beijo nunca apagado dos lábios,

aquele encontro único e único,

aquele um dentro do outro,

trouxe-nos a verdade de que nunca nos despediremos,

porque nosso adeus se repete, e repete, e repete,

como agora.

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