Mulher fragmentada
Cansada, despedaçada...
No espelho cruel
Vejo uma mulher fragmentada,
Cujos olhos tristes ficam a me exasperar.
Não sou essa fraca,
No espelho a me encarar,
Mas reconheço nela traços do que já fui.
A menina cheia de "ui, ui, ui.."
Que tinha medo de tudo,
Até de reclamar.
Vejo também alguns traços da adolescente,
Arredia, temerosa, revoltada...
Confusa por ter sido privada
De seu primeiro amor
E do conforto de um abraço materno.
Reconheço a jovem mulher
Tímida e de ar etéreo,
Que viu cada sonho seu se despedaçar...
E de vários fragmentos,
Reunidos,
Mesclados,
Surge um rosto cheio de passado,
Cujo presente são os olhos tristes a brilhar...
Olhos tristes,
Mas doces...
Uma doçura cansada,
De mulher calada...
Que encontra no anonimato da escrita
A força para falar...
E meus fragmentos me ponho a juntar,
Tentando entender o mosaico intrincado...
No meio do caminho,
Dos meus lábios
Sai um riso escancarado...
Cansei de unir pontos,
Cansei de juntar.
Cobri o maldito espelho
E para ele não irei mais olhar.
Cansei daqueles olhos tristes,
Que tentam esconder a solidão,
O desamparo,
A tristeza,
A desolação.
Eu quero rir!
Me cansei de chorar!
Cansei de ser razão
Enquanto todos a minha volta se comportam feito dementes.
Chega de assuntos que me tornam meus olhos doentes!
Chega de tristeza,
Chega de me fragmentar!
Só sei que quando tudo isso passar,
Não faço a mínima idéia do que verei no espelho...
Se será o mosaico feito de cacos,
Com massa corrida de sonho enchendo os buracos...
Ou se será outro rosto,
Livre de tanto pesar.
Deixo isso a cargo do tempo,
Da vida a passar...
Chega de martírio,
De preocupação.
Escondi até o espelho de mão,
Só para os meus angustiantes olhos tristes
Não ter que encarar.