CÁPSULA
No silêncio que antecipa o dia
há sons que escolhemos não escutar.
Galos anacrônicos rasgam as entranhas da quietude.
Motores gemem montanhas difíceis.
Passantes fortuitos assobiam passos ermos.
Siriemas abusadas gritam ecos noutros morros.
Sapos acordam os brejos em círculos concêntricos.
E o dia vai surgindo, num rasgar de placenta.
Os sinos acordarão num ataque histérico e doloso.
Sumirá a fumaça sobre as padarias iluminadas.
E por cima de tudo, estrídulo,
faltará o ruído das minhas ondas no paredão...
Nov 2008