CÁPSULA

No silêncio que antecipa o dia

Há sons que escolhemos não escutar.

Galos anacrônicos rasgam as entranhas da quietude.

Motores gritam montanhas difíceis.

Passantes fortuitos assobiam passos ermos.

Siriemas gritam ecos noutros morros.

Sapos acordam os brejos em círculos concêntricos.

O dia vai surgindo, num rasgar de placenta.

Os sinos acordarão num ataque histérico e doloso.

Sumirá a fumaça sobre as padarias iluminadas.

E por cima de tudo, estrídulo,

Faltará o ruído das ondas naquele paredão

de antigamente...

( lá tão distante )

Nov. 2008

Henrique Mendes
Enviado por Henrique Mendes em 05/11/2008
Reeditado em 13/09/2009
Código do texto: T1266860
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