RAINHA DAS TREVAS: UMA APOLOGIA AOS BENS MATERIAIS
Dona da noite
Rainha do silencio noturno
Conquistadora de sedentos corações
Irmã oposta de doçura infinita
Mulher de poucos homens
Dos que se julgam felizes
Enquanto reinam
Eu também te apreciei em outros tempos
Quando meu coração olhava tua cara tão distante
Desejava-te qual pardal que nunca construiu um ninho
Qual andorinha que atravessa mares para perpetuar a espécie
Quais aves de rapina que não respeitam a vitimam
Assim foi o meu coração quando te desejou
Por momentos, breves momentos,
Eu te vi minha
E em minha ilusão demente forniquei com tua imagem
Fabricada entre sinapses desconectas
Deficientes de neurotransmissores
Rainha de poucos
Dona das madrugadas ruidosas
Em festas néscias
Quem te pode resistir?
Oh! Princesa da luz
Amante de muitos homens
Homens, mulheres e crianças
Refugiam-se em tuas asas
Tu preferes o negro
E ao homem branco tu expões
Como vítimas de vergonha
Foste minha desde a infância
Na meninice te percebi e
Odiei-te com todas as minhas forças
Pelo meu ódio eu te abandonei
Desprezei-te
E até compus canções cantando as tristezas de quem te ama
Princesa da luz
Irmã oposta do aguilhão da morte
Daquela que conquista os homens
E os escraviza em mãos de sádicos
Princesa da luz
Oposta à dona da noite
Muitos dos teus verão a aurora
E a opulência da noite
Será envergonhada
Quantos conseguem te amar?
Todos te desprezam e
Os que são teus
Querem soltar as rédeas
Para ir-se ao longe
Cavalgas pela manhã
Em busca de amantes
Mas ninguém te ama
Princesa da luz
Mulher de muitos
Homens, mulheres e crianças
São tuas presas
Dona da noite... escuta:
Se por acaso um dia eu te possuir
Jamais serei teu
Jamais te amarei
Tuas tranças finas e adornadas
São um laço que aprisiona corações embriagados
Se um dia te possuir
Serás minha escrava
Em correntes invisíveis
Serás amordaçada por mim
Com ferro quente te marcarei e direi:
Minha és, mas jamais serei teu
O teu amor alucina os homens
Teu ser nada é
Em ti mesmo não há forças
Mas por trás de tuas ocultas sombras
Escondes fortalezas mortais
O amar-te é a raiz de todos os males